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O verdadeiro preço de um app

Atualizado: 22 de dez. de 2020



Nos últimos dias um aplicativo ficou subitamente famoso no mundo inteiro, mas não foi devido as suas features, design revolucionário ou avaliação cinco estrelas. Mas pelo caos que causou nas prévias eleitorais do Partido Democrata nos EUA.


Em uma rápida pesquisa no Google, tendo como referência matérias de sites americanos, descobri que:


O NY times bateu forte nos riscos de segurança, uma vez que o app precisava ser instalado manualmente pelos usuários. Ou seja, a distribuição foi feita por fora das lojas oficiais, através de um link para download. O usuário ainda precisava confirmar a opção de “confiar em fontes desconhecidas” (distribuidor não registrado).


A NBC confirma que o app rodava apenas no modo on-line (exigia uma conexão wifi/4G robusta para o envio das informações), sendo que muitos locais de votação tinham conectividade ruim.


E ambos veículos indicam que o app parecia nunca ter sido testado em escala menor (piloto para validação), tampouco construído para suportar diversos acessos simultâneos. Além disso, a equipe de trabalho nos locais de votação (usuários do app) não recebeu um treinamento prévio (e relatou que a interface era pouco intuitiva).


Resumo: conforme amplamente divulgado pela imprensa, ao iniciar a apuração nada batia com nada nas tabulações. E o Partido Democrata anunciou o motivo do atraso na divulgação dos resultados: abandonaram o app para contar os votos manualmente.


Um desastre.

Quem tem experiência com tecnologia sabe que distribuir apps por fora das lojas é ruim e pode complicar a vida do usuário. Apple e Google tem processos rigorosos de aprovação que por si só reduzem diversos riscos de crash e garantem a interoperabilidade em diferentes devices e sistemas operacionais. Mesmo sendo um app corporativo (para uso interno) existem formas mais seguras (e oficiais) de distribuição.


Sabe que em eventos, com grande aglomeração de pessoas, são situações do tipo “one shot” (não tem margem pra falha e nem segunda chance) e que rodar o app com banco off-line é sempre o melhor caminho para consistir os dados (sincronizar apenas quando encontrar uma conexão estável).


E também sabe (muito bem) que simultaneidade e escala são fatores críticos (afinal de contas eram 1.700 locais de votação).

Mas aparentemente tudo isso foi ignorado. Até porque, dá bem mais trabalho pensar na arquitetura do app considerando essas premissas.


De qualquer maneira eu seguia curioso em descobrir os motivos de tantos erros básicos, até que encontrei uma matéria da ApNews, na qual eles informaram que a empresa escolhida para o desenvolvimento do app era uma uma startup ligada ao próprio partido, que cobrou, oficialmente, USD 60K pelo projeto.


Para quem está de fora do mercado de tecnologia parece muito. Mas acredite: não é. Equivale a apenas a 350h de um time de projetos e engenheiros de software em solo americano. E com 350h você não constrói uma plataforma para atender a essa demanda em questão. Trata-se “apenas” das prévias mais importantes da eleição mais importante do mundo.


Talvez você não esteja à frente de um partido às vésperas de um processo eleitoral dessa magnitude, mas certamente tem ou terá em suas mãos projetos em que a tomada de decisão será baseada no preço como variável.


Portanto, lembre-se: o valor de um projeto deve estar diretamente ligado ao seu risco de dar errado.

No final das contas, o verdadeiro preço de um app pode ser a sua base de usuários, a performance do seu negócio, uma mancha em sua reputação ou até mesmo colocar em xeque o processo eleitoral da maior potência econômica do planeta.


ver artigo original no LinkedIn.

colaboraram com o artigo: Daniela Rabello e Marcelo Halpern

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