“Rasta, a gente não faz isso. E agora?”
Essa foi a segunda frase que eu mais escutei na última década como empreendedor no mercado de tecnologia (a mais ouvida foi, de longe, “não dá pra fazer”).
E é natural que essas sejam as respostas-padrão do time de projetos e desenvolvimento em um nicho de ciclos tão curtos. Em média, a cada 2 anos surge uma grande novidade de software, hardware, frameworks, hosting, etc.; e ela invariavelmente vai mudar a maneira como você vinha trabalhando.
Lembro que quando fundei a BASE o carro-chefe das interfaces era o Flash. Ah que saudades (#sqn) de abrir um site, esperar um loader de 3 minutos e depois tudo sair voando na tela. 10 em 10 projetos da nossa pauta eram total ou parcialmente produzidos nesse framework. Até que o tio Steve anunciou, em maio de 2010, que os produtos da Apple não suportariam Flash por questões de performance e segurança. O mercado rapidamente reagiu, mudando o tipo de demanda que chegava até nós.
"Não somos especialistas em Javascript", resmungaram os meus sócios quando vendi os primeiros projetos com esse requisito de frontend.
Bom, aprendemos. Anos depois os browsers também retiraram todo o suporte ao Flash (em movimento iniciado pelo Google) e assim o mercado de mídia on-line precisou se reinventar. Em Javascript.
A segunda onda chegou, através dos devices da Apple, Samsung e outras dezenas de fabricantes, somado aos milhões de investimento em infraestrutura e marketing pelas operadoras móveis. Era natural que o tráfego e experiência da Internet migrasse para os celulares (segundo o site dataportal.com, em 2009 apenas 0.7% do volume de acessos global da web se dava via mobile; nesse fechamento de 2019, a estimativa já é de quase 60%, chegando a 80% fora do horário comercial).
"Agora temos que pensar os sites para essas telas pequenas? Sério? A gente não faz isso".
Bom, aprendemos. Criativos e programadores (e as ferramentas por eles utilizadas) se adequaram ao design "mobile first", reinventando a maneira de entregar conteúdos e experiência de navegação.
Ainda no embalo dos smartphones, as Redes Sociais e empresas de serviços focaram no desenvolvimento de seus apps. E o mercado acompanhou.
"Por favor, não vende aplicativo. Não dá pra fazer".
Não só aprendemos, como reinventamos toda a estrutura da empresa a partir da oferta de apps (entre 2016-2018 representou mais de 50% do nosso faturamento). Segundo o site statista.com, em 2009, eram apenas 30 mil apps no Google Play; em 2018 a loja atingiu 3.8 milhões e, após a limpa do Google for força da Lei Geral de Proteção de Dados, contava com 2.8 milhões em setembro de 2019.
Na tentativa de me antecipar quanto ao próximo ciclo, há 2 anos atrás fui à WebSummit em Lisboa; e acabei conhecendo de perto uma tal de Alexa. Era a momento dos usuários interagirem com Assistentes de Voz, chatbots e soluções de Inteligência Artificial.
"Tu tá maluco. Não vai rolar isso. Não fazemos".
Fomos pioneiros. Construímos um produto estruturado com banco em grapho e algoritmo de AI para uma startup de alimentação na América do Norte, tendo como interface um app, a Alexa e o Google Home.
Para se ter uma ideia, segundo o site retaildrive.com (em matéria publicada em janeiro-2019), 41% dos lares americanos já utilizava algum assistente de voz do tipo "smart speaker". E como há poucas semanas atrás, aqui no Brasil, o echo dot foi o produto campeão em vendas na Black Friday da Amazon (números não divulgados oficialmente), ficou fácil prever qual será a onda de 2020.
E o legal dessa vez é ouvir: "Rasta, a gente já fez isso".
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